Diversa a economia, diversa a sociedade, diversa a política, diversa a natureza, eis Minas Gerais. Seu território tem tamanho equivalente ao da França, abriga quatro biomas: cerrado, mata atlântica, caatinga e campos rupestres de altitude. Até o início do século XX, a faixa leste do estado foi o domínio da rica biodiversidade da Mata Atlântica, de que só restam hoje uns poucos remanescentes, como o Parque Estadual do Rio Doce. Mais ou menos 60% do território mineiro é ocupado hoje pelo cerrado, ameaçado por variadas intervenções depredatórias. A extensão e a diversidade da cobertura vegetal de Minas Gerais motivaram a denominação que inicialmente se deu à capitania, que foi chamada de Capitania das Minas Matos Gerais. Para os primeiros ocupantes da região impressionaram tanto as minas, quanto as matas que a cobriam, em sua variedade, gerais. Também impressionados devem ter ficado com a paisagem das montanhas, com os complexos encadeamentos de suas terras em que se destaca a Serra do Espinhaço, em sua função de vertebração da terra mineira.

As montanhas mineiras, guardam riquezas minerais, a bela vegetação rupestre de altitude e uma ainda maior dádiva, são reservatórios de água, fonte estratégica da sobrevivência das populações humanas cada vez mais ameaçadas pelo aquecimento global, pela perda da biodiversidade, pela expansão da desertificação, pela crise hídrica. Minas Gerais, das Matas Gerais, das montanhas gerais, são, também, das águas gerais, desde o grande rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra, que inflete ao norte, que corta o território mineiro, que adentra a Bahia, que deságua no Atlântico, entre Alagoas e Sergipe. Caminho natural e histórico da integração nacional, de circulação de gentes, de mercadorias, de boiadas, de culturas. Houve tempo em que pelo Rio das Velhas era possível ir de Sabará até o São Francisco, à Pirapora, à Juazeiro na Bahia. Em mais de mil quilômetros de rio, uma variedade de culturas ribeirinhas, de artesãos de carrancas, de construtores de embarcações, de camponeses, de vaqueiros, de quilombolas.

O São Francisco é um dos rios míticos do sertão de Guimarães Rosa, entrecortado por veredas,por buritizais, por outros rios míticos, como o Urucuia, que demanda Goiás. Outro rio rico de histórias, de Minas Gerais, é o Jequitinhonha, que nasce no Município de Datas e que percorre grande parte do nordeste mineiro indo desaguar no sul da Bahia. Também no nordeste de Minas Gerais nasce o Rio Mucuri, que no século XIX, foi objeto de importantes iniciativas modernizantes, no campo econômico e social, promovidas por Teófilo Otoni. No campo das Vertentes, nasce o Rio Grande, que corta Minas Gerais de leste para oeste, que inclina-se para o sul, no Triângulo Mineiro, e vai contribuir para a formação da Bacia do Rio da Prata. Rio também rico de história, o Grande tem decisiva participação de geração de energia elétrica para Minas Gerais e outras regiões do país.


Dr. João Antônio de Paula
Professor Titular do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG